CRÔNICAS

Rua Dez de Julho por onde passa a memória da escravidão

Em: 10 de Julho de 2022 Visualizações: 4088
Rua Dez de Julho por onde passa a memória da escravidão

Toda rua tem seu curso / tem seu leito de água clara / por onde passa a memória / lembrando histórias de um tempo / que não se acaba (Gilberto Gil e Torquato Neto. A Rua. 1967).

Quantas vezes a rua Dez de Julho, em Manaus, ouviu o som dos meus passos? Porta de entrada e saída do bairro de Aparecida, por ela transitei milhares de vezes, sob mangueiras frondosas, seguindo trilhos dos bondes, pisando em paralelepípedos ou no asfalto, sem saber o significado desta data, porque escola, família e igreja nada me explicaram. Minha memória parecia o pastel do Bar Brasil, na esquina da Epaminondas: cheia de vento. Nem sabia que a escravidão no Amazonas foi abolida em 10 de julho de 1884.

Só soube na disciplina da professora Rosa do Espírito Santo no curso pedagógico do Instituto de Educação (IEA). Seu livro didático História do Amazonas (1965), que populariza a obra do historiador Arthur Reis, foi por ele editado já como governador nomeado pela ditador Mal. Castelo Branco. Lá consta que o Presidente da Província, Theodoreto Souto, anunciou a libertação dos escravizados em Manaus (24 de maio) e depois no Amazonas (10 de julho). O pastel de vento foi, enfim, recheado.

Não é fake news, talkey – diria um filosofastro de nossos tempos, ao devorar o recheio com carne podre moída da Pastelaria do Beiçola. O recheio da mestra foi atribuir o fato histórico à generosidade da elite amazonense. O Amazonas, vanguarda do abolicionismo ao lado do Ceará, libertou os escravos quatro anos antes da Lei Áurea, indicando assim o caminho para a Princesa Isabel, a “Redentora”. A memória bolorenta emergia no outro lado da rua Dez de Julho. Viva o Amazonas! Viva eu, viva tu, viva o rabo do tatu!

Cortina de silêncio

Nós, futuros educadores, éramos amestrados para ensinar assim História do Amazonas às crianças, acreditando que “a contribuição do negro foi insignificante”, como pontificou Arthur Reis na sua “Súmula de História do Amazonas (Roteiro para professôres)” editado pelo Governo do Estado, em 1965. Nada foi dito sobre a luta dos escravizados, as fugas, as perseguições, as prisões, os castigos físicos, a tortura, a violência contra seus corpos.

As celebrações do 10 de julho omitem os numerosos avisos publicados no jornal A Estrella do Amazonas com a vinheta “escravo em fuga”, registrados por Rômulo Pereira em sua tese (ESDI-UERJ, 2020). Não se menciona a negra Alexandrina, nem seu companheiro João Mulato, que teve preventivamente sua testa marcada por ferro em brasa que nem gado, com a palavra miasua (escravo, em nheengatu) para facilitar sua prisão em caso de fuga. Foi fácil identificá-lo e prendê-lo, com a promessa de “uma boa recompensa a quem capturar ou deles der notícia”.

Por isso, João Mulato, que fugiu outra vez, para não ser identificado, apagou a palavra, esfolando o rosto, que ficou esburacado, cheio de manchas e cicatrizes. O aviso da fuga de Geraldo, outro negro falante de nheengatu, aparece ironicamente abaixo do anúncio de chocolates finos importados da Europa. Tais avisos revelam quem eram os escravocratas. Mas tudo isto é mascarado pela narrativa que os enaltece como humanistas e portadores da “modernidade” por haverem emancipado seus cativos em 1884.

Desde 1866, a Assembleia Provincial passou a autorizar no orçamento da Província valores destinados à compra de alforrias. Liberou, em 1871, recursos para a libertação “do ventre daquelas mães que, por seu estado de saúde, estivessem em estado de procriar”, além de votar, em 25 de março de 1884, verba de 300:000$000 para indenizar os donos de carne negra. Isso A. Reis registra, mas não menciona que se tratava de um grande negócio, reforçando a imagem de altruísmo e filantropia da elite local.

Quilombo acadêmico

É interessante pesquisar se os recursos, liberados por tais emendas parlamentares, foram usados para a compra de seringais, no momento em que a economia amazonense, que se centrava na borracha, não operava com mão de obra escrava. Cabe perguntar ainda quantos negros libertos foram encaminhados aos seringais, submetidos ao sistema de trabalho de endividamento, herdeiro da escravidão.    

Uma cortina de silêncio oculta a dívida contraída pela sociedade amazonense com as culturas de origem africana. Reis a desvaloriza ao avaliá-la como “uma contribuição muito pequena”, porque “não houve no Amazonas um contingente de negros com participação intensa no processo de mestiçagem ou de criação da riqueza econômica”. Mas pesquisas de Nunes Pereira, Geraldo Pinheiro e Mário Ypiranga comprovam que o dado demográfico não é determinante, ao revelarem o aporte dos afrodescendentes para a identidade amazonense.  

Um balanço historiográfico fino sobre “a história da construção do silêncio” foi feito pela historiadora Patrícia Mello, em artigo no qual destaca as pesquisas realizadas nos últimos 15 anos, que reivindicam o direito à memória de populações afrodescendentes na Amazônia.

O fim do silêncio começa com a formação do “quilombo acadêmico”, denominação de Juarez da Silva, historiador mineiro negro, residente em Manaus, que em dissertação defendida em 2011 na Universidade Federal do Amazonas (UFAM) “teve o mérito de desconstruir um mito caro à memória oficial amazonense, que é a atuação supostamente desinteressada da elite local ao libertar seus escravos em 1884” – escreve Patrícia Mello.

O Seminário Escravidão, Raça e Etnicidade realizado pelo Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura Amazônica deu origem ao livro “O fim do silêncio: presença negra na Amazônia” (2021). Patrícia lista uma dezena de dissertações e teses do Programa de Pós-Graduação em História da UFAM e chama a atenção para a 150ª dissertação de autoria de Laura Blanco (2020) que, com fontes inéditas do Tribunal de Justiça do Amazonas, renovou o olhar sobre “crimes praticados por escravos” (2020).

Comunidades quilombolas

O Dez de Julho é fruto da luta e da resistência, como sabem muito bem seus descendentes que vivem nas comunidades quilombolas, algumas delas localizadas às margens do Rio Andirá, no baixo Amazonas. Lá vive Maria Amélia dos Santos Castro, de 62 anos, cujo bisavô Benedito Rodrigues da Costa veio da Angola para o Brasil e fugiu a nado pelos rios com três irmãos, conseguindo chegar onde hoje é o quilombo de Santa Teresa do Matupiri na Vila Amazônia.

- "Meu bisavô que meu avô contava, que meu pai contou, o meu avô também ainda teve a oportunidade, em 1969, de dizer pra gente que o pai dele tinha vindo da África junto com os portugueses e os espanhóis. Os espanhóis ficaram na entrada em frente à Barreirinha e ele, o negro Benedito, subiu o rio e ficou no Andirá, onde casou com Jerônima e formou família” – diz Maria Amélia.

Outra versão da escravidão no Amazonas aparece nesses relatos de Maria Amélia, líder da Federação dos Quilombos do Andirá. Ela foi ameaçada por pistoleiros, quando o Incra notificou madeireiros e pecuaristas para se retirarem do território quilombola, já legalmente reconhecido. Seus relatos constam do livro “Quilombolas do Rio Andirá”, organizado por Alfredo Wagner e Magela Ranciaro como parte do Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia.

A advogada Débora Gonçalves ressalta que o dia 10 de julho é data importante de ser lembrada, pois demonstra que “o processo de abolição da escravidão não foi fácil e não aconteceu do dia para a noite como fomos ensinados por tanto tempo nos livros de história, pelo contrário, ela foi fruto de grande luta dos nossos ancestrais”.

Trata-se de uma luta de discursos, uma disputa pela memória. Para o historiador Luís Balkar Pinheiro, o ocultamento da atuação dos escravizados negros em toda a Amazônia é “uma das mais graves distorções na escrita da história da região”. O reconhecimento do não-dito da historiografia regional “já permite um repensar diferenciado sobre o conjunto dessa produção”.

A resistência dos afro-brasileiros e sua presença na cultura amazonense devem figurar no currículo das escolas como estabelece a Lei 11.645. É recomendável que os professores do Amazonas, para não se deixarem engrupir, busquem o quilombo acadêmico, cuja produção é hoje perseguida pelo MEC e pelos pastores da propina. Esse quilombo indica as formas de celebrar a data e, cada vez que retorno a Manaus, me permite caminhar com orgulho e reverência pela Dez de Julho, cujas mangueiras foram podadas, mas que continua "me lembrando histórias de um tempo que não se acaba". 

Algumas referências do Quilombo Acadêmico:

1.Queirós, César Augusto B. (org). Historiografia Amazonense em Perspectiva. Manaus. Valer. 2020

2. Alves-Melo, Patrícia. Rompendo o silêncio sobre a presença negra no Amazonas: um breve balanço histórico in Queirós, Cesar Augusto (org) Historiografia Amazonense, p. 249-283

3. Pinheiro, Luís Balkar. Visões da Cabanagem: uma revolta popular e suas representações na historiografia. 2ª ed. Manaus. Valer. 2018

4.Silva Júnior, Juarez Clementino. Presença negra na Amazônia: o uso de biografias. In: Silva, Júlio et alii (Orgs.). Ensino de história e cultura afro-brasileira: desafios e perspectivas na Amazônia. Manaus: Editora UEA, 2019, p. 62-74.

5. Ranciaro, Maria Magela Mafra de Andrade. Os cadeados não se abriram de primeira: processos de construção identitária e configuração do território de comunidades quilombolas-Município de Barreirinha/Am. Tese de Doutorado. UFAM. 2016

6) Amélia, Maria: Trilhas percorridas por uma militante quilombola: vida, luta e resistência. Rio. Casa 8, 2016. 

7) Almeida, Alfredo W. e Ranciaro, Magela (orgs) – Quilombolas do Rio Andirá. Manaus. UEA. 2014

Ver também: 

Oi Siricoté: os quilombolas de Barreirinha - http://www.taquiprati.com.br/cronica/1394-oi-siricote-os-quilombolas-de-barreirinha

- Impressões do Amazonas: "miasua" na memória gráfica - http://www.taquiprati.com.br/cronica/1560-impressoes-do-amazonas-miasua-na-memoria-grafica

A incrível história da Nega Fufus - http://www.taquiprati.com.br/cronica/643-a-incrivel-historia-da-nega-fufus

- Quanto vale um índio no Amazonas? - http://www.taquiprati.com.br/cronica/756-quanto-vale-um-indio-no-amazonas-em-frances

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25 Comentário(s)

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Elizangela Almeida comentou:
16/07/2022
Um pouco do que significa o “Dez de Julho” para nossa história, além de referências imprescindíveis para pesquisas sobre a presença da população negra no Amazonas. Obrigada Mestre Antônio Carlos Maciel pela indicação
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Ira Maciel comentou:
13/07/2022
Preciosos dados sobre a escravidão do Amazonas . Excelente!
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Vera Nilce Cordeiro Correa (via FB) comentou:
13/07/2022
José Bessa muito obrigada por ter trazido pra mim seu texto, que aliás gosto muito de todos pois além de me acrescentar Historias da nossa taba ainda me faz rememorar coisas vividas afinal somos contemporâneos , moradores da mesma regiao de Manaus e mesma formação do IEA.
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Ana Celia Ossame comentou:
12/07/2022
Que relato! A História que precisamos conhecer para aplaudir
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Ida Vicenzia comentou:
12/07/2022
Gosto muito da Magela, mas, talvez porque eu não seja amazonense, eu não tenha entendido a alusão! A Magela nunca morou na 10 de julho. Ou morou?
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Magela Ranciaro (via FB) comentou:
12/07/2022
Magela Ranciaro Ida Vicenzia, obrigada pelo carinho. Quanto à crônica aí registrada, é que minha fonte de pesquisa é sobre a temática “quilombola”, a cujos estudos tenho me dedicado desde a década de 90 aos dias atuais. Nessa perspectiva, as abordagens sobre o sistema escravista são sempre objeto de reflexões, contribuindo sobremaneira para o aprimoramento de minhas pesquisas. Essa crônica, inclusive, é fonte primorosa dadas às circunstâncias com que o autor expõe tais acontecimentos ocorridos em tempos pretéritos. Grande abraço, querida. Saudade!
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Heliete Vaitsman comentou:
12/07/2022
Do José Bessa, que consegue mostrar as coisas mais terríveis sem perder a verve. Como no Brasil todo, tb no Amazonas ensinava-se que a escravidão fora abolida pá-pum, num gesto de nobreza de algum iluminado da elite cristã, que depois virava estátua
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Ciro Dantas comentou:
11/07/2022
Li sua crônica, professor. Trabalho exatamente com Diversidade Étnica na SEDUC. Gostaria de recomendar um ponto de revisão: em 10 de julho de 1884, segundo a professora Patrícia Melo, a população escravizada não foi exatamente libertada, mas sim houve a proibição do tráfico (venda, troca, etc) de escravos dentro do território do estado do Amazonas, o que na prática encerrou os processos escravistas na região.
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Magela Ranciaro (via FB) comentou:
11/07/2022
É linda, primorosa e comovente essa crônica; uma relíquia!
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Marina Maluf Guimaraes comentou:
11/07/2022
Ontem Laurentino Gomes estava no Canal Livre da Band news . Seu livro Escravidão é sensacional
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Aurelio Michiles comentou:
11/07/2022
Excelente essa crônica do José Bessa ela nos esclarece sobre o sistema escravagista da mão de obra-africana em Manaus. Não podemos dissociar que o Amazonas fez parte da Província do Grão Pará e tornou-se província autônoma somente em 1850, a escravidão no Brasilvigorou de 1821 a 1889. A contribuição africana no Estado do Pará é parte intrínseca da cultura regional.
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Renato Athias comentou:
11/07/2022
Excelente Bessa... muito boa... ótima análise... quem sabe já não está na hora de um movimento bem grande para mudança desses nomes (que não são nomes) de ruas?
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Maria Dorothea Post Darella comentou:
11/07/2022
Iluminado e querido Professor Bessa, Você presenteia formação semanalmente. Contextos fundamentais, magma, são expostos, histórias mencionadas e valorizadas. Nomes ofertam passado e presente rumo ao futuro já. Teus registros são sempre absolutamente oportunos, intensos, vibrantes, denunciadores, iluminados, envolventes, plurais, apresentando causas e consequências, dores e amargores, somando memórias, criatividades e visibilidades. A fartura de valiosas referências bibliográficas é gigantesca. Biblioteca inimaginavelmente ampla, vivida, envolvida! Te saúdo, te comemoro, te aplaudo, te agradeço, te abraço.
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Cristovão Nonato comentou:
10/07/2022
Professor, é impressionante, impactante e revoltante, como esse longo período da escravidão foi atenuado e dado todo crédito à elite compadecida.! Vamos compartilhar já!!!
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Ana Silva comentou:
10/07/2022
Excelente, aprendi muito.
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Tenório Telles comentou:
10/07/2022
Professor, bom dia. Que texto bonito e oportuno. A memória é um rio que guarda os despojos do passado. Dependendo dos ciclos e do interesse dos pescadores, sempre ressurgem do silêncio. Fiquei comovido com essas lembranças tecidas no seu texto e que nos ajudam a compreender nosso presente e perscrutar o futuro. Quem sabe compreendê-lo e vivê-lo de outra forma. O tempo sempre em marcha, revolve os escombros do passado e revela as histórias ainda não contadas. Nesse caso, as suas e as da cidade. Obrigado pelo texto. Parabéns.
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Márcio Pucu comentou:
10/07/2022
Bom dia Camarada Bessa, contemporâneo desse tempo, também fui um dos tantos transeuntes que passava na rua Dez deJulho sem saber o motivo do nome, além do fato de ter tido tantas mangueiras, que infelizmente às ruas de nossa infância já não possuem mais. Conheci Geraldo Pinheiro, irmão do padre Nonato, como também conheci o ex governador Artur César Ferreira quando trabalhava em 1965, na reforma da Biblioteca Estadual, obra de seu governo. Esse governo interventor da ditadura militar, me parece que foi o mais nacionalista, quando denunciou a pretensão da construção de um grande lago na Amazônia, salvo melhor informação.
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Luiz Pucú comentou:
10/07/2022
Pajé... quando esse teu dedo alado/toca no teclado/Sabiá pousa no telhado só para escutar teus pensamentos/ professor tu sabes mergulhar na história quando a dor aflora. Com 12 anos fui vendedor de livros pelas ruas de Manaus. Perdi o emprego com o golpe de 64 e o que chamou minha atenção foi a quantidade de livros de títulos diversos de autoria do "amazonista" interventor da ditadura. Tens razão o cabra cita o fato, mas omite o ato. E a rua 10 de julho tem uma energia forte paca! Axé Babá
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Susana Grillo comentou:
10/07/2022
Bessa, quanta informação preciosa para tirar do silêncio a história das lutas do povo negro por sua dignidade. Obrigada, abraços
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Diário do Amazonas d24 comentou:
10/07/2022
Versão impressa publicada em d24 - https://d24am.com/colunas/taquiprati/rua-dez-de-julho-por-onde-passa-a-memoria/
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Juarez Silva Jr. comentou:
10/07/2022
Sempre bom ser lembrado, ainda mais em texto do caríssimo Prof. José Bessa, mas realmente apesar de ter cunhado o termo "Quilombo Acadêmico", mais importante foi de fato o próprio quilombo, que majoritariamente inspirado e orientado pela Profa. Patricia Melo começou a dar fim ao silêncio e questionar as "certezas e referências intocáveis" até então. Entre alguns que fizeram isso importante lembrar o nosso caro "irmão de quilombo" e "rebelde historiográfico" que teve de fato a primazia e coragem de dizer (ao menos academicamente) que o grande ícone não era inquestionável, e pelo contrário merecia crítica e revisão no seu papel e premissas... esse foi o Ygor Olinto Rocha Cavalcante e viva o #10dejulho
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Valter Xeu comentou:
09/07/2022
Publicado em PATRIA LATINA - http://patrialatina.com.br/rua-dez-de-julho-por-onde-passa-a-memoria-da-escravidao/
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Roberto Zwetsch comentou:
09/07/2022
Muito bom artigo e a memória da resistÊNCIA NEGRA NO AMAZONAS. O MESMO VALE PARA MUITOS ESCRAVOS INDÍGENAS. RZ
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Jeremias Monteiro Santa Luzia comentou:
09/07/2022
Muito obrigado pela informação tão cheio de riquezas da nossa história, lembro que eu passava por está rua 10 de Julho para chegar a escola de Aparecida, saudosa lembranças dos amigos da época de escola que moravam no bairro de Aparecida e Centro
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FELIPE JOSE LINDOSO comentou:
09/07/2022
Bessa, nada como o trabalho dos bons historiadores. De fato, na minha infância, constava que o 10 de Julho era sobretudo fruto da "pouca importância econômica" da escravidão negra no Amazonas, embora já se começasse a falar que os escravos negros haviam sido libertos porque outras formas de servidão, particularmente dos indígenas, eram mais consolidadas e economicamente mais importantes. Mais tarde, na literatura, a escravidão por dívidas já era bem conhecida. Mas, realmente, nunca havia me tocado da amplitude da questão. Mas acho que continua faltando um aprofundamento dessas questões econômicas, tanto a relacionada com os escravos negros como as subsequentes escravidões indígenas e a escravidão por dívidas. E também as complexidades da própria escravidão indígena, cuja "legalidade" chegou a ser discutida em processos judiciais, como mostra o monólogo "Francisca", escrito pela Maria José com base na pesquisa do David Sweet, e que está no livro Struggle & Survival in Colonial America, editado pelo Sweet e por Gary B. Nash, que foi indicado a ela pelo Márcio Souza. Enfim, viva o trabalho desses jovens historiadores já formados pela UFAM, e esperemos que esses trabalhos continuem e se ampliem.
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