CRÔNICAS

Expedição Priquita (II) O rio Sena tem porrorrocá?

Em: 07 de Junho de 1985 Visualizações: 3401
Expedição Priquita (II) O rio Sena tem porrorrocá?

.Qual o tamanho exato do rio Sena? As suas águas se misturam com a do Marne? No rio Sena tem pororoca, tem piracema? O leito do Sena é compartilhado por Paris? Essas e outras perguntas atormentavam o cérebro dos integrantes da “Expedição Priquita” – todos eles cientistas amazonenses que foram estudar a França para retribuir a expedição de Jacques Costeau na Amazônia.

Baseada na metodologia de Costeau, a Expedição Priquita também se dividiu em três partes: a primeira equipe ficou responsável de entrar na França pela Suiça, procurando as nascentes do rio Sena nos planaltos da Bourgogne. A segunda, vindo do norte, entrou pelo corredor da Bélgica, e se encontrou com a primeira justamente na confluência dos rios Marne e Sena, já praticamente dentro de Paris.

O terceiro grupo de cientistas cabocos fez uma “ferradura” em volta da França: Espanha, Itália, Alemanha, Inglaterra, entrando pelo Canal da Mancha, onde se juntou às duas primeiras equipe em pleno estuário do Sena, na comuna Le Havre, na Normandia

As informações científicas produzidas pela Expedição Priquita mantiveram sempre o mesmo nível e a mesma consistência daquelas fornecidas por Cousteau sobre a Amazônia, ressaltando tudo aquilo que é pitoresco, exótico e insólito. Pode a França da Priquita, como a Amazônia de Cousteau, alimentar o planeta?

Enquanto procurava as nascentes do rio Sena no planalto de Langres, a 471 metros de altitude, a primeira equipe se inspirou justamente na entrevista do oceanógrafo francês para quem a Amazônia é o celeiro do mundo, pode alimentar milhões de bocas, considerando ainda que as madeiras devem ser exportadas sem qualquer perigo de devastação da floresta, etc e tal.

Ora, se Cousteau veio buscar aqui a solução, por que não podemos procurar na França as respostas para a subnutrição no mundo?

Estômago saciado

Com esse pressuposto, a equipe se deslocou 33 km a oeste e foi até a cidade de Dijon, onde entrevistou um médico, o dr. Pascal Fouchette, inventor de um método revolucionário que satisfaz a vaidade dos francês e pode contribuir para acabar com a fome no Nordeste do Brasil, assim como a dos colonos do mal denominado “Projeto Esperança” de Novo Aripuanã e saciar os professores da rede escolar estadual, os trabalhadores do Distrito Industrial explorados pelas multinacionais e os favelados de Manaus.

A equipe entrevistou ainda madame Nicolette, uma robusta senhora que pesava 196 quilos. A cada cinco minutos ela beliscava um presuntinho aqui, um queijinho ali, um cassoulet acolá. Ela foi operada pelo método revolucionário do doutor Pascal, perdeu o apetite e diminuiu 140 quilos, hoje é uma gatinha charmosa de 56 quilos.

Como aconteceu este milagre tão sen-sa-cio-nal quanto o encontro das águas? Em que isto pode ajudar a matar a nossa fome? O doutor Pascal faz cirurgias milagrosas, utilizando grampos de metal para dividir o estômago do paciente em duas partes. O lado superior forma, então, uma pequena bolsa, do tamanho de um ovo, religado ao inferior por um minúsculo orifício. Quando madame Nicolette come alguma besteirinha, o seu novo estômago superior se enche rapidamente e se esvazia lentamente pelo estreito orifício, dando a ela a aconchegante impressão de estar sempre com a barriga cheia.

Tal descoberta maravilhosa, se aplicada massivamente no Brasil e em particular na Amazônia, resolve o problema da fome. Basta a Prefeitura de Manaus criar mais um entre tantos “projetos” – o “Projeto Meu Estômago Saciado”. Os carrinhos municipais que prendem cachorros vadios poderão começar a recolher favelados famintos, que serão imediatamente submetidos à referida operação. Depois, basta uma pequena cuia de farinha com água, um chibezinho, para que cada cidadão se sentia de barriga cheia durante toda a semana.

Boca fechada

- Atenção, atenção! Diretor do INPA chamando Diretor do Goeldi. Câmbio!

- Diretor do Goeldi respondendo. Câmbio!

Desta forma começou uma comunicação entre duas equipes da Expedição Priquita. O grupo que estava em Londres comunicava ao grupo de Paris a descoberta de outro método interessante criado pelos ingleses para combater a fome conforme consta na gravação da conversa por rádio.

Shirley Turner, uma londrinense de 35 anos, pesava 137 quilos. Seu médico, o dr. Emanoel Days, colocou em sua dentadura uma espécie de saquinho que a impede de engolir qualquer alimento. Colou com cimento cirúrgico entre os dentes superiores e inferiores uns pregos de plástico duro, impedindo-a de mastigar.

Miss Turner se alimentou exclusivamente de chá, café, suco de tomate e água, perdendo uma média de dois quilos por semana. No final de dez meses, já havia perdido mais de 80 quilos.

A aplicação do método inglês descoberto pela Expedição Priquita, cuja aplicação na Amazônia tem a desvantagem de usar produtos alternativos caros, pode lançar mão aqui do vinho de buriti ou de açaí, mantendo as pessoas de boca fechada, onde não entra mosquito e de onde não sai protesto algum.

Porrorroquinha

E o verdadeiro tamanho do Sena? As informações oficiais falam em 776 km da nascente até o Canal da Mancha. No entanto, a nossa equipe, medindo com uma fita métrica de absoluta confiança usada pelos regatões da Amazônia, fez o caminho inverso e concluiu que o Sena é muito menor do que se pensa: apenas 677 km.

E o encontro das águas?

Quando as duas equipes se encontraram na confluência do Sena com o Marne, já dentro de Paris, descobriram que, ao contrário do Negro e do Solimões, as águas dos dois rios europeus se misturam. A viagem foi feita no Bateau Mouche e o testemunho dos turistas pode confirmar a veracidade da informação.

E a pororoca?

O rio Sena lança 510 m3 de água por segundo no Canal da Mancha, onde desemboca num estuário de 10 km de comprimento. Segundo o geógrafo do INPA Phellipe Nalé, isto é suficiente para produzir uma pororoca. Não uma pororocona ou uma pororocaça, mas pelo menos uma pororquinha ou uma pororoquita. No entanto, inexiste o fenômeno da pororoca.

Tal ausência se deve não ao fato de o Canal da Mancha fugir do pau e evitar a briga com o rio, mas a fatores exclusivamente linguísticos, porque a palavra pororoca é impronunciável na língua francesa. Caso existisse o fenômeno, para nomeá-lo todos os franceses padeceriam de edema nas cordas vocais devido à dificuldade de pronunciar porrorrocá ou mesmo porrorroquinha.

Tem piranha nas margens do Sena? Elas mordem? O Sena e Paris compartilham o mesmo leito? Por que o Sena em francês é a Sena? Veja no próximo segmento da série a contribuição dos cientistas amazonenses na descoberta da França.

 

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2 Comentário(s)

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sabela Dora Costa Monastersky comentou:
25/10/2021
Muito bom, hahaha. Aguardando o próximo capitulo
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Anne Marie Milon Oliveira comentou:
09/11/2020
Amei a crônica, mas embora a palavra 'pororoca' seja de dificil pronuncia em francês, o fenônomeno existe também por la e se chama "masacaret", como descreve o Wikipédia (https://fr.wikipedia.org/wiki/Mascaret#France ) "En Gironde, il est particulièrement visible sur : la Dordogne, un peu avant Libourne, à Saint-Pardon, la Garonne entre Langoiran et Podensac. En basse Seine (Normandie) se produisait un puissant mascaret jusqu'aux années 1960. Le mascaret se produisait principalement à Caudebec-en-Caux. Il était appelé localement la barre et le lieu-dit qui surplombe la commune a pris le nom de Barre-y-va, altération de Barival, ainsi que sa chapelle de Barre-y-va. cf. le roman éponyme de Maurice Leblanc appelé La Barre-y-va. Ce terme est vraisemblablement issu du norrois bára « vague », tout comme l'anglais (tidal) bore. cf. islandais bára, même sens). Il était réputé et apprécié comme spectacle naturel, mais il a disparu à la suite des aménagements apportés au fleuve (dragage), endiguement et modification de l'estuaire, non sans avoir fait une dernière victime en 1961. Curieusement, le phénomène était aussi perceptible dans la Risle, affluent de la Seine, à Pont-Audemer. En Normandie et en Bretagne, ce phénomène est visible dans la baie du Mont-Saint-Michel (appelé également « la barre ») lors de coefficients de marée supérieurs à 100 ; côté Normand, l'observation du phénomène est garantie à la Pointe du Grouin du Sud près de Vains et depuis le Mont-Saint-Michel ; et de moindre ampleur mais visible tout de même, posté sur le pont de Pontaubault lorsqu'il remonte dans la Sélune. Dans les Côtes-d'Armor, au niveau de Lannion et du Léguer, la rivière qui traverse cette ville, le mascaret, extrêmement rare, ne se produit que pour des coefficients de marées supérieurs à 115. Toutefois le 13 février 2020 au matin un mascaret remonte le Léguer jusqu'au centre-ville, inondant le Quai d'Aiguillon situé le long de la rivière, et ce alors que le coefficient de marée n'est que de 10113"
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