CRÔNICAS

VOTE NO GILBERTO CERTO

Em: 28 de Novembro de 2004
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.Prezado vizinho do andar aqui de cima,

Estou com uma descomunal sede de justiça e não sei como saciá-la. Aí, pensei: o vizinho, presidente do Tribunal de Justiça do Amazonas, que compartilha comigo a mesma página dominical, desenvolveu o programa ‘A Justiça ao alcance de todos’. Ele pode quebrar meu galho, que na verdade não é galho apenas meu, mas de todos nós, preocupados com a vida política do nosso estado. Por isso, tomo a liberdade de lhe enviar o requerimento abaixo.
Ilmo. Sr. Desembargador Arnaldo Carpinteiro Peres, presidente do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJA).
José Ribamar Takiprati Bessa Freire, amazonense, nascido e criado no Beco da Bosta, Bairro de Aparecida. Professor e jornalista, 57 anos de idade, domiciliado no Diário do Amazonas, p.7, 1º andar. Filho de Eliza e João, irmão de Glória, Regina, Helena, Dile, Teca, Tuta, Cado, Preta, Celeste, Domingos, Bambi e Céu. Amigo de infância e quase cunhado do fiel Rubi-Rôla. Legítimo amo e senhor de um cão vira-lata que atende pelo nome de ‘Canalha’. Depois de devidamente se identificar, apresentando suas credenciais, vem mui respeitosamente expor e requerer o que se segue:
1. O requerente tomou conhecimento através dos jornais que um indivíduo que responde pelo nome de Gilberto Miranda Batista (PFL – vixe! vixe!), de apelido Mirandinha, usurpou uma vaga no Senado Federal, ao tomar posse nesta semana como representante do Amazonas, sem ninguém ter votado nele e sem ter qualquer vínculo com o nosso Estado. O usurpador, irmão de Egberto Batista, o Podrão, alegou que nas eleições para o Senado, em 1998, os lemas de sua campanha vitoriosa foram ‘Vote certo no Gilberto’ e ‘Quem deve, teme, vote no Gilberto M.’ Argumentou que o povo, endividado, votou nele.
2. O requerente vem publicamente denunciar ao Tribunal de Justiça do Amazonas que se trata de uma fraude. Os eleitores, na realidade, votaram em outro candidato, de nome Gilberto sim, mas de sobrenome Mestrinho, apelidado de Boto, especialista em engravidar urnas, filiado a outro partido (PMDB – vixe!). No entanto, como a campanha foi financiada por Miranda, o Boto prometeu repartir com ele uma fatia do mandato, dando-lhe uma segunda suplência, que ficou escondida detrás do primeiro suplente, João Thomé Mestrinho, cognome Botinho.
3. A promessa de campanha foi, agora, cumprida. O Boto, parece que doente de verdade, pediu licença médica. Seu filho e suplente João Thomé Mestrinho, tendo que se dedicar à piscicultura, de mentirinha, cedeu a vaga ao Miranda, demonstrando assim que filho de Boto, botinho é. Por causa dessa armação imoral, os eleitores que votaram num Gilberto M. acabaram elegendo outro Gilberto M. Os dois, é verdade, são a mesma “eme”, mas o Boto é “nossa eme”, cujo fedor somos obrigados a suportar, enquanto que a “a eme dos outros” deve ser cheirada pelos paulistas.
4. O requerente lembra que na eleição para o Senado em 1998, o Boto embuchou várias urnas do alto Solimões, obtendo assim 49% dos votos válidos. O segundo colocado foi um caboco de Ipixuna, Marcus Luiz Barroso Barros, com 47.1% dos votos, ou seja, 382.447 eleitores deixaram bem claro que queriam tê-lo como representante do Amazonas no Senado. A combativa companheira Irinéia Vieira (PSTU) foi a terceira colocada, abiscoitando 12.650 votos. Finalmente, o quarto foi o senador-pororoca, o “Maninho”, Evandro Carreira, com 11.980 votos. Gilberto Miranda teve zero voto.
5. O requerente entende que se o Boto não pode cumprir mais o seu mandato, por motivo de doença, devemos rezar por sua saúde, mas enquanto ele não se recupera, quem deve ser chamado para substituí-lo é o segundo colocado, porque essa foi a vontade indiscutível do povo amazonense, expressa nas urnas. Caso Marcus Barros prefira continuar no IBAMA para impedir o desflorestamento da Amazônia, a combativa companheira Irinéia é a nossa senadora. Se ela por alguma razão declinar, tem que mandar buscar o senador-pororoca onde quer que ele esteja, porque seus votos lhe conferem legitimidade para dar o recado amazônico, ao contrário do Mirandinha Zero Voto.
6. Com essa armação imoral, o Boto, seu filho Botinho e o Mirandinha - na humilde opinião do requerente - humilharam milhares de amazonenses, nos fazendo passar vergonha no cenário nacional. A prova é que os dois senadores amazonenses, Artur Virgílio Neto (PSDB-AM) e Jefferson Péres (PDT-AM), cientes de nossa desonra, não compareceram à cerimônia de posse do Mirandinha. Até mesmo a fiel escudeira do Boto, a companheira Lucimar Mamão, ex-babá do Botinho, decidiu colocar luto, porque considerou que seu voto e sua militância apaixonada foram aviltados.
7. Mirandinha ficou conhecido por causa dos escândalos em que se envolveu, durante o processo de construção de seu patrimônio declarado de 500 milhões de dólares: empresas, mansões, ilha, fazendas, casas de campo, carros importados, helicóptero, jatinho Learjet, uma adega com 2.000 garrafas de vinhos estrangeiros e o diabo aquático. Nunca investiu um centavo no Amazonas, nem para abrir uma fábrica artesanal de picolé de buriti. Paulista de São José do Rio Preto, jamais abriu uma estrada de asfalto num caroço de tucumã, tem nojo de tacacá e despreza a cabocada.
Por isso, diante do exposto, o requerente solicita deste egrégio Tribunal:
1. Um mandado de segurança, uma ação cautelar, uma liminar - sei lá! – enfim, o remédio jurídico mais apropriado em favor dos 382.447 eleitores que votaram em Marcus Luiz Barroso Barros, permitindo que ele assuma a vaga no Senado que lhe cabe por direito.
2. Uma CPI rigorosa, integrada pelos deputados estaduais Eronildo e Risonildo, para apurar como é que Mirandinha, filho de um tintureiro pobre do interior de São Paulo, que em 1975 não tinha onde cair morto, conseguiu em trinta anos ficar nadando em dinheiro;
3. Uma indenização de 5 mil reais paga pelo Boto, Botinho e Mirandinha para cada eleitor amazonense pelos danos morais causados a todos nós;
4. Um barbeiro para fazer um novo corte de cabelo do Mirandinha, o senador-sem-votos, modificando o modelito ridículo que ele usa, imitando o Chitãozinho e o Xororó.
Nestes termos, pede deferimento.
Manaus, 28 de novembro de 2004. 
P.S. 1– Lula está no Palácio do Planalto há 697 dias, com a caneta na mão e até hoje, ao contrário do que prometeu, não homologou a Terra Indígena Raposa/Serra do Sol.
P.S. 2 - Vários leitores, entre os quais J.C. estão clamando por justiça no caso do senador Mirandinha Zero Voto. Um deles, em relação à crônica da semana passada, pergunta com quem ficou a Dile: com o Zé Cavalo ou com o Newton Bocão? Sugiro que vá numa locadora e pegue o filme “Candelabro Italiano”. Lá está o final da história.

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