VERSIÓN EN ESPAÑOL ABAJO
“Só aceitei aprender a ler e escrever, porque encarei a alfabetização como se fosse um
peixe com espinhas. Tirei as espinhas e escolhi o que queria”. (Ailton Krenak. 2004)
Ele escolheu o que queria. Por isso, Ailton Krenak foi o primeiro escritor indígena eleito para a Academia Brasileira de Letras (ABL). Soube tirar as espinhas, o que não é tarefa fácil dependendo do tipo de peixe. Traíra e pacu têm muita espinha. Em geral, quem cata para os filhos pequenos são as mães, que os ensinam como fazer.
No entanto, o processo histórico de alfabetização escolar de crianças indígenas tem sido feito irracionalmente numa língua que não faz parte de suas práticas comunicativas, portanto sem a correspondente oralidade. Impedidas de usar a língua materna, obrigadas a engolir o peixe com espinha e tudo, engasgam, ferem a garganta e são condenadas ao silêncio. Nem oralidade em sua língua, nem a escrita em português.
Ailton, que viveu outra situação, conseguiu navegar entre a oralidade e a escrita, separando o joio do trigo. Isso ficou claro na sua posse nessa sexta (5), em que trajava o fardão e usava uma bandana indígena. Esse catador de espinhas de peixe, que aprendeu a nadar nas águas doces e então límpidas do rio Watu e que vive atualmente na Reserva Indígena Krenak, em Resplendor (MG), esclareceu em seu discurso o que veio fazer na cadeira nº 5 da ABL.
- Eu já disse que venho aqui para trazer as línguas nativas do Brasil e colocá-las dentro desse ambiente que faz a expansão da lusofonia.
Algumas delas contam com milhares de falantes até fora do Brasil, como o Guarani, presente em quatro países do Mercosul e, na Pan-Amazônia, o Tikuna, o Macuxi, o Tuyuka, o Tukano, o Nheengatu, o Hãtxa Kuĩ (Kaxinawá). Essas línguas, minorizadas em cinco séculos de colonização e colonialidade, entram agora na ABL pela porta da frente, já entreaberta na gestão de Marco Lucchesi, que convidou os Guarani para dois eventos e discursou na língua deles.
Escrita funerária
Em conversa logo após sua eleição, Ailton nos falou que pretende criar na ABL uma plataforma similar à da Biblioteca Ailton Krenak, cujo acervo é constituído por centenas de documentos, textos, fotos, filmes. Manterá ainda diálogo com outras instituições: o Museu dos Povos Indígenas (MPI) hoje dirigido por Fernanda Kaingang e a Biblioteca Nacional presidida por Lucchesi.
Esse diálogo pode ampliar o acesso na plataforma da ABL às narrativas gravadas em línguas ameríndias pelo Programa de Documentação de Línguas Indígenas (Prodoclin) do atual MPI, construído em parceria com a UNESCO na gestão anterior de José Levinho. Assim, a Academia fundada por Machado de Assis em 1987, além do português, passa a contar em seu acervo com registros em dezenas de línguas ameríndias.
- A ideia é priorizar a oralidade e não necessariamente o texto escrito. O que ameaça essas línguas é a ausência de falantes – disse Ailton, na mesma linha de dona Fiota, professora da “Gira de Tabatinga” em Bom Despacho (MG), que ao ser ameaçada pelo secretário municipal de educação de cortar o seu salário por ser “analfabeta”, disse:
- Eu não tenho a letra. Eu tenho a palavra, que é mais do que a letra.
Ailton tem a palavra e a letra. A biblioteca digital que pretende criar na ABL será acessada não apenas por leitores, mas por “escutadores”. Lá, elementos da cultura oral irão interagir com o discurso escrito libertador, desdenhando aquela “escrita funerária”, que serve de caixão para sepultar o cadáver da letra morta, considerada o osso do som. A prioridade será a escrita viva, livre, voando como um pássaro, que devolve a palavra ao universo da oralidade, como queria o tukano Manoel Moura.
- Todo mundo que escreve livros incríveis escutou histórias de alguém que não escreveu livros. A literatura que produzimos nos últimos 3.000 anos deve ter pelo menos 10 mil anos em que ninguém escrevia. Só contava histórias - disse Ailton em seu discurso no qual contou histórias.
Línguas ameríndias
O novo acadêmico é autor de vários livros com propostas novas de se relacionar com o meio ambiente, entre eles “A vida não é útil” e Ideias para adiar o fim do mundo”, já traduzidos para treze países. Ele sabe que é na leitura que um livro se faz, mas não o sacraliza, nem o fetichiza, até porque existe muita porcaria editada. Reconhece o papel da oralidade como registro sem, no entanto, desconsiderar a escrita, que numa sociedade como a brasileira guarda relação com a cidadania.
O português, a única língua de Estado oficial, tem um mercado editorial forte, conta com edição de livros e bibliotecas ao contrário das línguas historicamente minorizadas, que muitas vezes sequer são dotadas de alfabeto e por isso foram discriminadas como "carentes de escrita", quando na verdade eram "independentes da escrita", dela não precisavam para reproduzir suas culturas e seus saberes..
Em seu discurso de posse repleto de improvisações, Ailton fez pausas de meditação, como quem diz: primeiro nós pensamos, só depois é que falamos ou escrevemos. A palavra milenar dos povos originários enunciada pelos primeiros narradores deste território ocupado pela “Pátria Mãe Gentil” foi, finalmente, escutada no Petit Trianon da ABL por um público seleto: a ministra da Cultura, Margareth Menezes, o ministro Silvio Almeida dos Direitos Humanos, a presidente da Funai Joênia Wapixana e Eloy Terena do ministério dos Povos Indígenas.
O novo acadêmico percorreu a ponte da oralidade em direção ao mundo da escrita e, parafraseando o conhecido poema de Mário de Andrade, disse em seu discurso de posse:
- Desde que me convidaram ou me animaram para ocupar essa cadeira número cinco, eu me perguntava: Será que nessa cadeira cabem 300? Como Mário de Andrade, eu sou 300. Olha que pretensão. Eu não sou mais do que um, mas posso invocar mais do que 300, os 305 povos que nos últimos 30 anos do nosso país passaram a ter a disposição de dizer "estou aqui".
E é como se Ailton tivesse dito:
- Se é para o bem de todos e a felicidade geral das 305 nações que resistem no Brasil, digam a elas que fico.
O colar do imortal
O auditório ficou lotado, assim como os jardins da ABL, com líderes de várias dessas nações, antropólogos, professores, animadores culturais, jornalistas, artistas, cantores. A escritora Heloísa Teixeira, ocupante da cadeira 30, recepcionou o novo “imortal”, com um discurso intercalado por vídeos, em um deles a cena memorável na Assembleia Constituinte, em 1987, na qual Ailton, enquanto falava, pintava o rosto. Ele deixou marcas da tinta preta de jenipapo impressas nos artigos 231 e 232 da Constituição brasileira de 1988.
Heloísa reconheceu a importância de Ailton para o Brasil e a ABL, registrando que aquele era um momento histórico. Destacou que, junto com ele, entravam na Academia “um universo de territórios, pensamentos e cosmologias indígenas”, além de 180 línguas enumeradas com critérios linguísticos, que sobem para 274 línguas autodeclaradas no Censo do IBGE (2010)
O novo acadêmico já havia recebido o título de doutor honoris causa de várias universidades federais: de Minas Gerais (UFMG), de Juiz de Fora (UFJF) e de Brasília (UnB). Foi laureado, entre outros, com o Prêmio Juca Pato de Intelectual do Ano, concedido pela União Brasileira de Escritores.
Seu discurso interrompido muitas vezes por aplausos abordou temas diversos: literatura, direitos dos povos originários, das mulheres, dos afrodescendentes. Lamentou a demora da ABL em admitir a primeira mulher em seus quadros – Raquel de Queiroz, só em 1977. Para ele “não é apenas uma questão de gênero, mas de perceber o mundo de maneira diferente”. Foi justamente uma acadêmica, a atriz Fernanda Montenegro, quem colocou em Ailton o colar de imortal.
A espada
Quando se referiu ao rito, “que nos dá potência para ir além da nossa rotina de reproduzir cotidianos, nos saca desse lugar-comum e nos põe num lugar de criação de mundos”, Krenak citou a música Procissão de Gilberto Gil, ali presente e submergido por uma chuva de aplausos. Já o pedido de perdão feito pela Comissão da Anistia aos Povos Originários para ele é insuficiente, porque exige medidas concretas de reparação.
O território indígena foi, finalmente, demarcado na ABL. Ailton abriu portas pelas quais podem entrar Eliane Potiguara, Graça Graúna, Daniel Munduruku e outros escritores. Se mais um escritor indígena entra na ABL será uma oportunidade para degustar outra vez o cardápio da noite, com comidas indígenas preparadas pelo grupo mineiro Terra Come, que brindou o público no final do evento com uma supimpa sopa de mandioca, cogumelo, banana da terra e banana verde, servida em cumbucas de argila forradas com folha de taioba.
Ah, já ia me esquecendo: quem entregou o diploma ao mais novo acadêmico foi Antônio Carlos Secchin. Já a espada saiu das mãos de Arnaldo Niskier, que não disse, afinal, para que servia. Ailton, porém, sabe muito bem para que serviu. Historicamente, ela foi usada por portugueses e espanhóis, que usurparam os territórios indígenas em nome de Jesus Cristo, como explicitado no poemário La espada encendida de Pablo Neruda,
“La espada, la cruz y el hambre iban diezmando la familia salvaje”.
P.S. De São Paulo veio muita gente para ver a posse de Ailton Krenak, incluindo participantes do Ciclo de Debates Educação e Povos Indígenas – Experimentações entre saberes, realizado em 3 e 4 de abril no SESC Bom Retiro, parceiro da UNIFESP no evento. A última mesa da qual participei, mediada por Tatiana Amaral, contou com apresentações de Cristine Takuá e Sandre Benites, com a exibição de um vídeo sobre a escola, que diz tudo. 1 - CHAMADO PARA TECER DIÁLOGOS - Cristine Takuá - APRENDIZAGENS (youtube.com)
Referências
Ailton Krenak. Ler e Escrever é uma técnica. Apud Bessa Freire, J.R. La presencia de la literatura oral en el processo de creación de bibliotecas indígenas en Brasil. Conacultura. Guadalajara-Jalisco. 2004. p.165
Colón, Marcos: Amazônia Latitude - Ciência e Jornalismo pela floresta. Fotogaleria: a posse de Ailton Krenak na Academia Brasileira de Letras, o primeiro indígena imortal - Fotogaleria: A posse de Ailton Krenak na ABL, o primeiro indígena (amazonialatitude.com)
Espinas de pescado: un escritor indígena en la
Academia Brasileña de Letras
Texto: José R. Bessa Freire. Tradução: Consuelo Alfaro Lagorio
“Sólo acepté aprender a leer y escribir, porque veía la alfabetización como si fuera un pescado con espinas. Retiré las espinas y elegí lo que quería”. (Ailton Krenak. 2003)
Escogió lo que quería. Por eso, Ailton Krenak fue el primer escritor indígena elegido miembro de la Academia Brasileña de Letras (ABL). Supo quitarle las espinas, lo que no es tarea fácil dependiendo del tipo de pescado. Traíra y palometa son peces con mucha espina. Por lo general, son las madres las que enseñan a sus niños pequeños a hacerlo.
Sin embargo, el proceso histórico de alfabetización escolar de los niños indígenas se ha llevado a cabo de manera irracional en una lengua que no forma parte de sus prácticas comunicativas y por tanto sin la oralidad correspondiente. Impedidos de utilizar su lengua materna, obligados a tragar el pescado con espinas y todo, se atoran, se lastiman la garganta y son condenados al silencio. Ni oralidad en su idioma, ni escritura en portugués.
Ailton, que vivió una situación diferente, logró navegar entre la oralidad y la escritura, separando el trigo de la paja. Así quedó claro en su toma de posesión este viernes (5), cuando vistió el uniforme de la ABL y lució un pañuelo indígena alrededor de la cabeza. Este recolector de espinas de pescado, que aprendió a nadar en las frescas y claras aguas del río Watu y que actualmente vive en la Reserva Indígena Krenak, en Resplendor (MG), explicó en su discurso lo que vino a hacer en la cátedra número 5 de la ABL.
- Ya dije que vengo aquí para traer las lenguas nativas de Brasil y ubicarlas dentro de este ambiente responsable por la expansión de la lusofonía.
Algunos de esos idiomas tienen miles de hablantes incluso fuera de Brasil, como el guaraní, presente en cuatro países del Mercosur y, en la Panamazonia, el tikuna, el macuxi, el tuyuka, el tukano, el nheengatu y el hãtxa kuĩ (kaxinawá). Estas lenguas, mermadas en cinco siglos de colonización y colonialidad, entran ahora a la ABL por la puerta grande, ya entreabierta durante la gestión de Marco Lucchesi, que invitó los guaraníes a dos eventos y habló en su idioma.
Escritura funeraria
En una conversación poco después de su elección, Ailton nos dijo que tiene la intención de crear en la ABL una plataforma similar a la de la “Biblioteca Ailton Krenak”, cuya colección consta de cientos de documentos, textos, fotografías y películas. También mantendrá diálogo con otras instituciones: el Museo de los Pueblos Indígenas (MPI) actualmente dirigido por Fernanda Kaingang y la Biblioteca Nacional ahora presidida por Marco Lucchesi.
Este diálogo puede ampliar el acceso en la plataforma ABL de narrativas registradas en lenguas amerindias por el Programa de Documentación en Lenguas Indígenas (Prodoclin) del actual MPI, construido en colaboración con la UNESCO durante la anterior administración de José Levinho. Así, la Academia fundada por Machado de Assis en 1987, además del portugués, puede contar en su colección con registros en decenas de lenguas amerindias.
- La idea es priorizar la oralidad y no necesariamente el texto escrito. Lo que amenaza estas lenguas es la ausencia de hablantes – dijo Ailton, en la misma línea que Doña Fiota, profesora de la “Gira de Tabatinga” en Bom Despacho (MG), que, amenazada por el secretario municipal de educación con cortarle el salario por ser “analfabeta”, respondió:
- No tengo la letra. Tengo la palabra, que es más que la letra.
Ailton tiene la palabra y la letra. A la biblioteca digital que ABL pretende crear no sólo podrán acceder los lectores, sino también los “oyentes”. Allí, elementos de la cultura oral interactuarán con el discurso liberador escrito, desdeñando esa “escritura fúnebre”, que sirve de ataúd para enterrar el cadáver de la letra muerta, considerada el hueso del sonido. La prioridad será la escritura libre, que vuela como un pájaro y así devuelve la palabra al universo de la oralidad, como quería el escritor Tukano Manoel Moura.
- Todos los que escriben libros asombrosos han escuchado historias de alguien que no escribió libros. La literatura que hemos producido en los últimos 3.000 años debe tener al menos 10.000 años, cuando nadie escribia. Sólo contaba historias - afirmó Ailton en su discurso en el que contó histórias.
Lenguas amerindias
El nuevo académico es autor de varios libros con nuevas propuestas para relacionarse con el medio ambiente, entre ellos “La vida no es útil” e “Ideas para posponer el fin del mundo”, que ya han circulado en trece países. Sabe que un libro se hace a través de la lectura, pero no lo sacraliza, ni lo fetichiza, sobre todo porque hay muchas publicaciones de mala calidad. Reconoce el papel de la oralidad como registro sin desconocer, sin embargo, la escritura, que en una sociedad como la brasileña es vital para el ejercicio de la ciudadanía.
El portugués, única lengua oficial del Estado, tiene un fuerte mercado editorial, de libros y de bibliotecas, a diferencia de las lenguas históricamente minorizadas, que a menudo ni siquiera tienen alfabeto y, por tanto, son discriminadas por "carecer de escritura", cuando en realidad eran "independientes de la escritura", no la necesitaban para reproducir sus culturas y conocimientos.
En su discurso de toma de posesión lleno de improvisaciones, Ailton hizo pausas para meditar, como diciendo: primero pensamos, sólo después hablamos o escribimos. La antigua palabra de los pueblos originarios enunciada por los primeros narradores de este territorio ocupado por la “Patria Amada” finalmente se escuchó en el Petit Trianon de la ABL por un público selecto: la Ministra de Cultura, Margareth Menezes, el Ministro Silvio Almeida de Derechos Humanos, la presidenta de la Fundación Nacional del Índio (Funai) Joênia Wapixana y Eloy Terena, del Ministerio de los Pueblos Indígenas.
El nuevo académico cruzó el puente de la oralidad hacia el mundo de la escritura y, parafraseando el conocido poema de Mário de Andrade, dijo en su discurso:
- No soy más que uno, pero puedo invocar a las 305 personas que en los últimos 30 años de nuestro país se han dispuesto a decir "aquí estoy". Y es como si Ailton parodiara la frase histórica de D. Pedro I: - Si es por el bien de todos y la felicidad general de las 305 naciones que resisten en Brasil, diles que me quedo.
El collar del inmortal
El auditorio estaba lleno, al igual que los jardines de la ABL, con líderes de varias de estas naciones, antropólogos, maestros, animadores culturales, periodistas, artistas, cantantes. La escritora Heloísa Teixeira, ocupando la silla 30, dio la bienvenida al “nuevo inmortal”, con un discurso intercalado con vídeos, en uno de ellos la memorable escena de la Asamblea Constituyente, en 1987, en la que Ailton, mientras hablaba, se pintaba la cara. Dejó marcas de tinta negra de genipapa impresas en los artículos 231 y 232 de la Constitución brasileña de 1988.
Heloísa reconoció la importancia de Ailton para Brasil y para ABL, señalando que vivíamos un momento histórico. Destacó que con él ingresó a la Academia “un universo de territorios, pensamientos y cosmologías indígenas”, además de 180 lenguas catalogadas con criterios lingüísticos, lo que asciende a 274 lenguas auto declaradas en el Censo del IBGE ( 2010)
El nuevo académico ya había recibido el título de doctor honoris causa de varias universidades federales: Minas Gerais (UFMG), Juiz de Fora (UFJF) y Brasilia (UnB). Fue galardonado, entre otros, con el premio Juca Pato de Intelectual del Año, otorgado por la Unión Brasileña de Escritores.
Su discurso, a menudo interrumpido por aplausos, abarcó diversos temas: literatura, derechos de los pueblos indígenas, mujeres, afrodescendientes. Lamentó el atraso de la ABL en admitir a la primera mujer en sus filas, Raquel de Queiroz, recién en 1977. Para él “no se trata sólo de una cuestión de género, sino de percibir el mundo de otra manera”. Fue precisamente una académica, la actriz Fernanda Montenegro, quien le puso el collar inmortal a Ailton.
La espada
Al referirse al rito, “que nos da el poder de ir más allá de nuestra rutina de reproducir la vida cotidiana, nos saca de este lugar común y nos coloca en un lugar de creación de mundos”, Krenak citó la canción Procissão de Gilberto Gil, presente allí y sumergido en una lluvia de aplausos. Dijo también que el pedido de perdón de la Comisión de Amnistía para los Pueblos Originarios es insuficiente, porque requiere medidas concretas de reparación por parte del Estado.
El territorio indígena finalmente fue demarcado en la ABL. Ailton abrió puertas por las que pueden entrar Eliane Potiguara, Graça Graúna, Daniel Munduruku, entre otros autores. Si un escritor indígena más entra em la ABL, será una ocasión para probar nuevamente el menú de la noche, con comidas indígenas preparadas por el grupo minero Terra Come, que brindó al público al final del evento una sabrosa sopa de yuca, champiñones, plátano de la tierra y plátano verde, servida en cuencos de barro forrados con hojas de taioba.
Ah, casi me olvido: quien entregó el diploma al nuevo académico fue Antônio Carlos Secchin. En cuanto a la espada, salió de las manos de Arnaldo Niskier, quien finalmente no dijo para qué servía. Ailton, sin embargo, sabe muy bien. Históricamente, fue utilizada por portugueses y españoles, quienes usurparon territorios indígenas en nombre de Jesucristo, como se explica en el poema La Espada Encendida de Pablo Neruda:
“La espada, la cruz y el hambre iban diezmando la familia salvaje”.
PD: Mucha gente vino desde São Paulo a Rio de Janeiro para presenciar la toma de posesión de Ailton Krenak, incluidos los participantes del Ciclo de Debate sobre Educación y Pueblos Indígenas – Experimentaciones entre saberes, realizado los días 3 y 4 de abril en el SESC Bom Retiro, organizado por la UNIFESP (Universidade Federal do Estado de São Paulo). La última mesa en la que participé, mediada por Tatiana Amaral, contó con las exposiciones de Cristine Takuá y Sandra Benites, con la proyección de un video sobre la escuela, que lo dice todo. 1 - LLAMADO A TEJER DIÁLOGOS - Cristine Takuá - 1 - CHAMADO PARA TECER DIÁLOGOS - Cristine Takuá - APRENDIZAGENS (youtube.com)
Referencias
Ailton Krenak apud Bessa Freire, J.R. Ler e Escrever é uma técnica. La presencia de la literatura oral en el proceso de creación de bibliotecas indígenas en Brasil. Conacultura. Guadalajara-Jalisco. 2003.
Colón, Marcos: Amazônia Latitude - Ciência e Jornalismo pela floresta. Fotogaleria: a posse de Ailton Krenak na Academia Brasileira de Letras, o primeiro indígena imortal - Fotogaleria: A posse de Ailton Krenak na ABL, o primeiro indígena (amazonialatitude.com)