CRÔNICAS

A lista do Tribulins: o nepotismo no Amazonas

Em: 12 de Abril de 1994 Visualizações: 10323
A lista do Tribulins: o nepotismo no Amazonas

Em verdade, em verdade, te digo, leitor (a), o que eu gostaria mesmo era de ficar só escrevendo, todas as semanas, sobre o bairro de Aparecida, que me viu nascer e crescer e me deu régua e compasso. É muito gratificante rememorar o afeto presente em cada uma de suas ruas e em cada canto de suas casas.

A Dada, a Luzia, a Leonor, a Tereza Paixão, a dona Geraldina, mãe do Petel e tantas outras mulheres corajosas do bairro, com o seu trabalho anônimo e cotidiano, vão tecendo a vida e construindo o amanhã. Elas, suas histórias, seus amores e suas brigas, é que deveriam ser as protagonistas das crônicas semanais.

Poderia ficar aqui, nesta coluna, durante anos, contando histórias de dona Elisa, trocando algumas abobrinhas contigo, leitor (a). As vantagens disso são muitas. Ninguém fica com raiva, a gente não arruma novos inimigos ou adversários, as pessoas relaxam e gozam. É melhor falar de flores do que de lixo.

Acontece que a gente abre os jornais e só vê trapaças e falcatruas. Tem muito político bandido e empresário gangster roubando, enganando, mentindo. Tem, também, gente honesta, lutando contra isso e correndo riscos. Diante de um quadro desses, como ficar escrevendo sobre o bairro e a família?

Já cantava o poeta alemão Bertold Brecht, no período do domínio nazista, algo mais ou menos assim: “Que tempos são esses em que falar de flores é quase um crime”, porque – segundo ele – significava omitir-se diante da violência e da opressão.  A gente acha, então, que é preciso se comprometer, tomar partido, lutar do lado bom, correto e justo.

Os tempos são de lama, podridão, fezes, maus poemas e alucinações. Lemos nos jornais que vereadores eleitos para cuidar dos interesses do povo de Manaus embolsaram quase 2 bilhões de cruzeiros reais hoje (o equivalente a 2 milhões de dólares americanos) de ressarcimentos médicos, muitos deles falsificando recibos. Usaram, em benefício próprio, recursos que deviam ser aplicados para minorar o sofrimento coletivo. Descobertos, bloquearam as investigações. Ridicularizam a Justiça.

Nem mesmo um poste ficaria parado e insensível diante de um crime desses. Por isso, decidimos somar a nossa voz à dos vereadores honestos e políticos íntegros, que estão denunciando o crime: formação de quadrilha. Quem não gostou foi o presidente da Câmara, Omar José Abdel Aziz, ele também um dos vereadores ressarcidos com recibos falsos. Anunciou: “Vou panfletar a cidade inteira, mostrando quem é realmente Ribamar Bessa”.

É muito leso! Supunhetamos que eu seja um monstro. Em que isso inocenta o Omar das falcatruas que ele fez, todas elas documentadas? Estou morreeeeendo de medo das calúnias do Omar José Abdel Aziz. Quem acredita no que ele diz? Nem ele mesmo. Omar Aziz (PPR – vixe, vixe!) é primário. A única coisa que faz com eficácia e competência é puxar saco do Amazonino Mendes (PPR – vixe, vixe!) e providenciar recibos para ressarcimentos.

Olha só, leitor (a). Ainda nem consolidei os novos rancores ressarcidos contra essa minha pessoa e eis que os jornalistas Sérgio Bártholo e Ivânia Vieira, de quem com muito orgulho fui professor, revelaram, no sábado passado, o nepotismo do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM). A matéria, um belo e competente exercício de jornalismo investigativo, apresenta uma longa lista com os nomes pertencentes ao maior cabide de empregos públicos da Amazônia Legal.

Os Lins hoje são os donos do TCM, que por esta razão ficou conhecido como Tribulins. Ou pelo menos, são os sócios majoritários, numa sociedade que conta ainda com acionistas menores, mas pujantes, das famílias Benoliel, Amed, Soares, Ribeiro & Cia. Ltda.

O Tribulins, sem dúvida alguma, é um grande negócio, mais rentável do que ser anão do Orçamento ou pigmeu do ressarcimento. Rende mais do que uma fazenda de gado no Careiro. A árvore do Orçamento dá frutos uma vez por ano. Se você for um vereador esperto, pode realizar até dez colheitas por ano da planta ressarcimento. No entanto, ambos – orçamento e ressarcimento – apresentam períodos de safra e entressafra, enquanto o Tribulins rende diariamente.

Para que serve o Tribulins? Para cumprir duas funções. A primeira é política. Controlado pelo PFL (vixe, vixe!) e pelo PPR (vixe, vixe!), o Tribulins não tem qualquer critério técnico sério para aprovar ou rejeitar as contas municipais. Se o prefeito pertencer a um desses “vixe-vixes”, suas contas estão aprovadas, mesmo apresentando vários rombos. Se for de um partido adversário, embora seja um poço de honestidade, suas contas serão rejeitadas, em base a alguma irregularidade formal.

O segundo objetivo do Tribulins é empregar toda a parentada de seus donos: cunhados, genros, sogros e sogras, sobrinhos, tios, primos, irmãs, empregadas domésticas e todos os xerimbabos. Na lista da folha de pagamento divulgada por Sérgio e Ivânia aparece até o comandante da lancha particular de um conselheiro aposentado, o noivo da filha de um outro, todos ganhando polpudos salários sem trabalhar. É um escárnio.

Os Lins deviam ser processados pelo Juizado de Menores, porque colocaram na folha de pagamento do TCM crianças, que aparecem como procuradores e auditores, com salários de até 3 milhões de cruzeiros reais. como é o caso de um garoto de 14 anos. Desde bebezinhos, um Lins já é treinado para mamar nas tetas dos cofres públicos.

- Isso é um escândalo! Estou morrendo de nojo! – me telefona uma professora da Universidade Federal do Amazonas, indignada porque trabalha como um cavalo e não ganha uma sexta parte do que recebe esse garotinho Lins.

Então, minha amiga, anote aí o que vou escrever. Veja como está sendo empregado o dinheiro público. Se quiser, recorte e envie à Receita Federal. Estou copiando de uma coluna social do dia 28 de setembro de 1993, publicada em A Crítica.Lá vai:

“A ceia natalina chez Rita-Átila Lins esteve caprichadissima. A mesa do buffet era guarnecida por toalha de veludo verde caindo em ponta nos quatro cantos. Eram presas por argolas douradas. Gravata em veludo vermelho descendo até metade da mesa terminava num arremate de borlas de seda na mesma tonalidade. Sobre todos esses detalhes, baixelas de prata contendo iguarias deliciosas. Taças e flutes de cristal continham vinhos e champagnes esplêndidos. Num dos ângulos do living, sensacional árvore de natal. Um luxo, até mesmo discreto. Todo o clã Lins de Albuquerque e Cunha e Silva assinava presença”.
A nota termina informando que “zarpa amanhã o casal com os filhos a tiracolo para o reveillon em Miami e o restante das férias em Cancun”.  Quando a viagem é custeada com o dinheirinho suado da gente, leitor (a), a gente ‘viaja’, quando é com dinheiro público, eles ‘zarpam’.  

O deputado Sebastião Nunes (PT) há muito tempo vem tentando extinguir o Tribulins. Hoje, terça-feira, dia 12, pela terceira vez o Sebastião está apresentando emenda à Constituição para acabar com essa excrescência. Fica atento, leitor (a), para identificar os deputados que votam a favor do Tribulins e os que são contra. E no dia 3 de outubro, vinga-te com o teu voto.

Ressarcidos e Tribulins: o mesmo combate!

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1 Comentário(s)

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ISMAEL TARIANO comentou:
13/12/2010
josé Ribamar Freire, tudo o que falar de cultura é muito importante para nós porque ele defender a interesse do povo indigenas da Amazonia. muito importante José ribamar!!!!!!!!!!!!""""""""
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