CRÔNICAS

Ézio de smoking, dinheiro na maleta

Em: 07 de Setembro de 1996 Visualizações: 6737
Ézio de smoking, dinheiro na maleta
Senado Federal. Secretaria Legislativa. Subsecretaria de Taquigrafia. Comissão Parlamentar Mista de Inquérito. Orçamento. Reunião de 15/01/94 - 10h 16 min. Presidente: Senador Jarbas Passarinho. Relator: Deputado Roberto Magalhães. Depoimento: Deputado Ézio Ferreira.
O sr. Presidente (Jarbas Passarinho) -  Declaro aberta a reunião que tem por finalidade ouvir o depoimento do Deputado Ézio Ferreira. Peço a S. Exa. que tome assento à mesa e ao Vice-presidente que faça as perguntas de estilo.
O sr. Odacir Klein - O seu nome?
O sr. Ézio Ferreira - Ézio Ferreira de Souza
O sr. Odacir Klein – Idade?
O sr. Ézio Ferreira - Cinquenta e três anos.
 Depois de responder a outras perguntas sobre estado civil, residência, profissão, lugar em que exerce atividade, Ézio fêz o seguinte juramento:
O sr. Ézio Ferreira - “Juro dizer a verdade, somente a verdade, do que sei e do que me for perguntado”.
Ézio é interrogado pelo relator Roberto Magalhães sobre sua movimentação bancária, a transferência de recursos de empresas de engenharia que operam no Amazonas e em Roraima para a sua conta pessoal, suas ligações com José Carlos dos Santos para quem ofereceu três passagens para Aruba. Ézio escorrega como pode, respondendo várias vezes que “essa CPI foi constituída para examinar assuntos do Orçamento e não para examinar minha vida pessoal”. Quanto às passagens, pondera que sempre ajudou as pessoas necessitadas. A palavra é concedida ao Senador Suplicy.
O sr. Eduardo Suplicy - V. Exa. via José Carlos dos Santos como uma pessoa necessitada?
O sr. Ézio Ferreira - Eu o via como uma pessoa necessitada e, depois, é triste: eu vim saber que ele tinha 3 milhões de dólares.
O sr. Eduardo Suplicy - V.Exa. explicou, de alguma maneira, a origem do seu patrimônio, mas me pareceu que ficou muito insatisfatória a explicação dada diante das indagações do deputado Roberto Magalhães. V. Exa. há de convir: num País em que cerca de 39 milhões, na força de trabalho, recebe de zero até dois salários mínimos, então como foi registrado que V. Exa. conseguiu receber, em 5 meses, mais de 1 milhão de dólares como depósito e sabendo que a remuneração de um Parlamentar tem variado, ao longo dos últimos anos, em torno de 3 a 4 - às vezes 5 - mil dólares mensais, ainda que houvesse rendimentos significativos, acho que seria importante que pudéssemos compreender melhor como é que o patrimônio gerado por suas atividades empresariais viabilizou um fluxo de depósitos de rendimentos tão significativos. Eu agradeceria se pudesse nos dar melhor explicação sobre quais são as suas principais atividades empresariais, seja de natureza imobiliária, seja de outra natureza, que viabilizaram remuneração tão acentuada.
O sr. Ézio Ferreira- Nobre Senador Suplicy, quero dizer que compreendo que mais de 39 milhões de brasileiros vivem quase na miséria, e eu gostaria de fazer mais pelo meu Brasil, pelo meu povo. Agora, esta Comissão está aqui para investigar verbas do Orçamento, manipulação de verbas do Orçamento. (...) Então, o que V. Exa. quer é saber da minha vida pessoal, e me recuso a falar da minha vida pessoal dentro daquilo que já falei.                  
O DINHEIRO NA MALETA
A Ata da Sub-secretaria de Taquigrafia do Senado Federal continua a registrar o depoimento do deputado Ézio Ferreira (PFL).
O sr. Vivaldo Barbosa - Muito bem. Outra questão, Deputado, é que na movimentação financeira de V. Exa.(...) V. Exa. chegou a realizar depósitos de mais de 500 mil dólares. (...) A CPI ficou algo perplexa, em outro depoimento, quando viu que o Deputado, para comprar um apartamento, carregou o dinheiro numa maleta e não usou o instrumento bancário para fazer o pagamento.(...) V. Exa. poderia informar-nos por que estas movimentações, depósitos, feitos na conta pessoal de V. Exa. só foram feitas em dinheiro e não pelos meios bancários normais?
O Sr. Ézio Ferreira - Sr. Deputado, essa pergunta não é pertinente. Eu me recuso a respondê-la, mesmo porque, quando eu depositei o dinheiro, é que eu estava devendo ao banco. V. Exa. pode reparar aí que, no outro dia, já não tinha mais o dinheiro. V. Exa. pode examinar. Então, não tem nada a ver com o trabalho desta CPI. Isso se refere a uma vida pessoal, e eu me reservo o direito de não responder.
Mais adiante, o deputado Aloisio Mercadante volta a insistir:
O sr. Aloisio Mercadante - (...) Como é que V. Exa. tem 150 mil dólares, mais do que todo o provento de V. Exa. ao longo do ano, para emprestar a alguém?
O sr. Ézio Ferreira - Já disse que eu me reservo o direito de não responder a sua pergunta, porque não é pertinente com esta Comissão.
Chega a vez do deputado Pedro Pavão.
O sr. Pedro Pavão - É comum festas promovidas por V. Exa. em sua residência. Nessas festas era comum a presença de José Carlos, João Alves, empreiteiras?
O Sr. Ézio Ferreira - Deputado Pedro Pavão, nunca fiz festa para empreiteira. Fiz festa sim para receber os meus amigos, meus colegas aqui do Congresso Nacional, às vezes Presidente da República, Ministro de Estado. Nunca fiz festa para me enaltecer.(...) Sempre fiz festa porque gosto, sou festeiro.
Já quase no final do depoimento(fls. 29 e 30), um senador vem em socorro do depoente.
O sr. Gilberto Miranda - Sr. Presidente, Srs. Parlamentares, sinto-me na obrigação, como Senador pelo Amazonas de, antes de iniciar as minhas perguntas, dar um  depoimento que acredito em parte vai desagradar muito o Depoente. Mas tenho que dar este depoimento para todos os membros da CPI e acho que é muito importante fazer uma análise de tudo isso daí, de tudo que o Depoente deixou de falar e que os Membros da CPI não conhecem. O Depoente não é do meu partido, é do PFL; não tem nada a ver com o PMDB; é um forte candidato ao Senado, no meu Estado, o que prejudica ao meu partido, mas as verdades têm que ser ditas nesta CPI, mesmo talvez sendo mal interpretadas pela imprensa. O Depoente é uma pessoa muito vaidosa. O depoente não tem uma escolaridade universitária. Acredito que o Depoente não tenha feito mais que meia dúzia de discursos nesses sete anos de vida parlamentar. Mas nós temos que considerar fatos que esta CPI deixa de considerar, e fatos importantes. (...) Todos nós, no Amazonas, sabemos que o Depoente é a pessoa mais desorganizada de vida parlamentar e de vida empresarial. S. Exa. realmente...
O sr. Presidente (Jarbas Passarinho) - - Mais organizada ou desorganizada?
O sr. Gilberto Miranda - Desorganizada. O Depoente confunde a vida empresarial com a vida privada. É normal o Depoente colocar dinheiro na sua conta. (...) O Depoente, como disse, é considerado, no Amazonas e aqui em Brasilia, como uma pessoa que dá festas, como uma pessoa que gasta. Na campanha eleitoral passada, eu não vi ninguém mais ajudar a doentes, com óculos, associações, mandar... quando fui Secretário de Desenvolvimento do Estado, na cidade de São Paulo, o Depoente era a pessoa que mais mandava dezenas e dezenas de doentes, pelo seu próprio bolso, para a Secretaria, em São Paulo, encaminhar para operações do coração e de todo tipo. O Depoente, como disse, é generoso. O Depoente chega ao ponto, pelo estilo dele, de, se alguém pedir 100 mil dólares emprestados e ele não tiver, ele ir a um banco, tomar, ou pedir para terceiros e, realmente emprestar o dinheiro. É próprio do Depoente. Ele faz isso”.

O depoimento durou quatro horas, terminando às 14h09 min. São 55 páginas datilógrafadas, contendo perguntas e respostas. O Depoente, hoje, é candidato a vereador pelo PFL. Quem quiser checar se o que Gilberto Miranda(“nós, do amazonas! Que cara-de-pau!)  falou é verdade, peça emprestado 100 mil dólares ao depoente..

Na coluna Ora Pilulas

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