CRÔNICAS

Os americanos, a eleição e as piscadelas do cabo

Em: 22 de Outubro de 1996 Visualizações: 6909
Os americanos, a eleição e as piscadelas do cabo
O norte-americano, às vezes, é meio lesão, né não? De vez em quando, os gringos gostam de acender umas velinhas para Santa Etelvina, a popular Saint Ethel. De outra forma como explicar que, nos Estados Unidos, um menino de seis anos seja punido, acusado de assédio sexual, por dar uma inocente beijoca numa coleguinha da escola? Eu hein!
Um povo fascinante que produz um cinema de qualidade, música,  literatura, artes plásticas,   tecnologia,  ciência,  contra-cultura e tantos outros bens culturais  devia se mancar numa hora dessas e se preocupar com temas mais relevantes. Mas não se manca. Fica dando vexame e exibindo sua babaquice para o mundo inteiro. Torna-se, portanto, evidente que, assim como existe uma leseira manauara existe também uma leseira ianque, uma espécie de american silliness. Quem duvida, basta ver pela televisão a festa do Oscar.
O professor de psicologia da Faculdade de Boston, Joseph Tecce, sem dúvida alguma é um devoto ardoroso de Santa Etelvina.  Toda noite, antes de dormir, ele beija o escapulário com a imagem da padroeira dos lesos e reza:
- Abenção Saint Ethel, dai-me a vossa benção e guiai-me para o céu. Saint Ethel  por mim, ninguém contra mim, vou dormir na paz do céu, amém.
Na semana passada, ele dormiu em paz. Acordou e deu declarações à imprensa nacional e internacional, garantindo que Bill Clinton vai ganhar as eleições presidenciais, porque durante o debate realizado em Washington, na quarta-feira, Clinton deu apenas 48 piscadas por minuto, enquanto Bob Dole será derrotado porque piscou 105 vêzes no mesmo espaço de tempo.
Há mais de 40 anos o professor Tecce vem estudando a média de piscadas nos debates presidenciais e concluiu que em todas as eleições o perdedor sempre foi aquele candidato que piscou mais.
- As pessoas piscam excessivamente quando estão muito tensas ou quando estão mentindo -  explicou o pesquisador.
Ele aplicou a mesma metodologia de pesquisa para acompanhar as eleições no Japão. Gravou o debate entre o candidato Kabu P. Lela, do Partido da Nova Fronteira (Shinshinto) e seu adversário Shela Phin, do novo Partido Democrático (Minshuto). Shela Phin piscou 36 vezes, uma em cada segundo, enquanto Kabu P.Lela deu mais de cem piscadelas. Resultado: Shela Phin foi eleito prefeito de Tóquio.
O método parece coisa de leso, mas funciona. Por isso, decidimos importá-lo para o Amazonas. No primeiro turno, não foi possível aplicá-lo, porque um dos candidatos - o Cabo Pereira - fugiu da discussão como o capiroto foge da cruz. Ele não participou em nenhum dos debates realizados,  mas agora, chegou a hora da verdade. Não pode mais fugir do pau.
Fica atento, leitor (a). No dia 10 de novembro, no debate organizado pelo SBT, o Cabo Pereira e o Serafim Corrêa vão ter que explicar o que é que cada um deles pretende fazer com a cidade de Manaus. Não desgruda o olho, leitor (a), da cara deles dois. Conta quantas vezes cada um piscar e, por favor, informa a essa coluna. Interessa não apenas os movimentos  dos olhos da cara. Mas também as piscadelas do olho do... coração.
Na semana passada, os dois candidatos, em dias diferentes, foram ao Colégio La Salle, expor aos alunos seus planos de governo, submetendo-se a uma bateria de perguntas. Um aluno do Grêmio Estudantil filmou tudo e enviou uma cópia para a coluna “Taqui Pra Ti”. Remetemos a fita para Boston, nos Estados Unidos, solicitando em caráter de urgência ao professor Joseph Tecce que nos enviasse um relatório detalhado, com sua avaliação...
As conclusões do relatório são, como diria Agildo Ribeiro, um espanto!. Segundo o documento, nunca nenhum candidato a qualquer cargo piscou tanto como o Cabo Pereira. Só pelos olhos da cara, a média foi calculada em 183 piscadas por minuto, considerada pelos pesquisadores um recorde, colocando uma vez mais o Amazonas na liderança mundial. Não foi possível contabilizar as piscadas dos outros olhos, incluindo o olho do... coração.
O momento em que mais acelerou o número de piscadas foi quando falou do tal projeto Nova Veneza. Jurou que vai construir não-sei-quantas-mil-casas e lero-lero e coisa-e-lousa e blá-blá-blá. Empolgado,  prometeu que vai resolver o problema de moradia de todo o mundo, até mesmo da sem-teto Lavínia (Vivianne Pasmenter) e do mendigo Canequinha (Elias Gleiser), ambos  vivendo num casarão abandonado na novela “Anjo de Mim”.
O relatório do professor Tecce contabilizou 49 piscadas do candidato Serafim Corrêa, em um minuto. Como  uma delas foi de propósito, para expressar sua cumplicidade com a platéia, ele acabou empatando com Bill Clinton.
Mesmo sem conhecer esses resultados, o presidente do Grêmio Estudantil do La Salle, Fabrício Lima coincidiu com a análise confirmando que o Cabo Pereira “fugiu dos assuntos abordados nas perguntas, por isso nós, alunos, não ficamos satisfeitos”.
O Bill Clinton que se cuide. Serafim vem aí.
P.S.- 1 -  Só ontem recebi, com data de 25 de setembro, uma carta estimulante de Pedro Missioneiro, responsável pela ação popular contra os ressarcimentos médicos da Câmara Municipal. Agradeço e transcrevo o último parágrafo:
“Veja se você pode escrever alguma coisa em defesa dos Servidores do Estado. É que o Governo reduziu seus salários, pensões e aposentadorias, culminando com o absurdo de sequer entregar seus holleriths (contracheques). Pode uma coisa dessas? E ainda tem gente que vai votar no homem!”.
P.S. - 2 - E o Belão, hein? Quem diria! Levou uma surra eleitoral do povo de Alvarães.  

 

 

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