CRÔNICAS

Os argumentos de Maria Mirjona e a UFAM

Em: 08 de Abril de 2001 Visualizações: 6699
Os argumentos de Maria Mirjona e a UFAM

.O ex-presidente da Iugoslávia, Slobodan Milosevic, acusado de crimes de guerra pelo Tribunal Penal Internacional, foi preso no meio da semana. A primeira visita que recebeu no Presídio Central de Belgrado foi a de sua esposa, que atende pelo estranho nome de Maria Mirjona Markovic. Com o cabelo cheio de laquê, parecendo uma maçaroca de cerol, Mirjona - cuja foto foi publicada pelo Jornal do Brasil (04/04, p.11) - classificou como "levianas" as acusações, mas não apresentou nenhum dado em defesa do marido. Limitou-se aos adjetivos de sempre: 

- Ele é um homem probo, um modelo de estadista.

Eis o que eu queria dizer. Algumas contestações apresentadas na discussão sobre quem é o melhor candidato a reitor da Universidade do Amazonas (UA) são dignos de dona Maria Mirjona, provando que um simples "r" pode mudar tudo ou - quem sabe? - não muda nada, como hoje pretendemos demonstrar. Acompanha-me, leitor (a).

CARTAS NA MESA

Olha só! Nos últimos cinco dias, recebi 81 mensagens por e-mail, comentando a crônica de domingo passado intitulada "O reitor paideguinha". Nove delas foram redigidas por leitores que estão nadando e andando para a universidade e que consideram o tema aborrecido e sem graça. As outras 72 foram escritas por quem está vivendo lá dentro e, portanto, como é natural, foram cartas apaixonadas, de quem quer o melhor para a nossa universidade, cada um - é claro - na sua perspectiva.

O que diziam as cartas dos leitores? Bom, elas concordavam aqui, discordavam ali, elogiavam acolá ou esculhambavam alhures. Três leitores manifestaram indignação contra o tratamento dispensado a uma das chapas na crônica passada. "O Hidembergue é sério e competente", escreveu uma leitora, que merece total confiança. Ninguém, no entanto, me escreveu para defender o atual reitor Walmir Albuquerque, que luta desesperadamente para permanecer oito anos no cargo.

Felizmente, A CRITICA, cumprindo o seu papel de estimular a discussão, publicou, além de "O Reitor paideguinha", pelo menos três textos conflitantes sobre a questão, que merecem comentários": um artigo de José Seráfico, outro de Júlio Lopes e uma longa carta da servidora aposentada Ignez Izquierdo. Digo felizmente porque sou contra o pensamento único - seja ele qual for - e defendo a pluralidade de ideias. A publicação de opiniões divergentes é fundamental para que cada um tire suas conclusões. Afinal, o leitor não é gado, que pode ser tangido de um lado para outro.

Na crônica de domingo passado, abri o jogo. Escancarei minha opinião sobre a chapa que considero a melhor para dirigir os destinos da Universidade: Luis Monjeló e Neila Falcone. Fiz isso não com o objetivo de conduzir o leitor, mas para contribuir na formação de sua opinião, acreditando que ele tem o direito de saber de que lado o jornalista está e quais são suas ideias, para poder relativizar o que lê. Portanto, a mensagem que enviei foi: Cuidado! Não sou um observador imparcial, neutro, mas como qualquer mortal, estou envolvido na briga, e não escondo isso de ti, leitor. Podes não concordar comigo, mas sabes que estou sendo leal.

ZÉ BUNDINHA

Lord Seráfico, professor da UA, como seu nome sugere, é um anjo de candura, coração de rapadura. É verdade que ele é paraense, mas ninguém é perfeito. Para corrigir esse erro, a Assembleia Legislativa devia declará-lo como o único amazonense que nasceu no Pará. De qualquer forma, elegante e sóbrio, Seráfico não 'mirjou' fora do caco. Manifestou-se contra a reeleição, defendendo o princípio da rotatividade no poder. O seu primoroso e elegante artigo, traduzindo no debochado código taquiprati, quer dizer:

- Walmirzinho, fominha de poder, vai cheirar teu pé.

Walmirzinho, em vez de cheirar seu pé, foi para a televisão e tentou esconder sua voracidade com um lero-lero fantástico. Ele usou e-xa-ta-men-te as mes-mas pa-la-vras de Maluf na disputa pela prefeitura de São Paulo contra Marta Suplicy: "É preciso mais de um ano para saber como administrar. Os outros candidatos não têm essa experiência. Só eu". É, bebé! Então, por que não permitir que outros adquiram a mesma experiência? Com essa lógica de Maluf, quem está no poder, dele nunca sairá e quem está fora, nunca entrará.

O Júlio Antônio Lopes, a quem leio semanalmente com muita atenção, considera esse tipo de critica como "baixaria". Ele escreveu que o eleitor universitário "não vai se contaminar por acusações gratuitas e levianas como, por exemplo, as dirigidas ao atual reitor Walmir Albuquerque, homem sabidamente probo, profissional competente e administrador realista". Data venia, Júlio, mas esses são os argumentos típicos de Maria Mirjona. Aliás, administrador 'realista' é uma porcaria. Administrador bom é o que sonha e transforma.

Coloquei a carapuça e me perguntei: por acaso escrevi que o Walmir tem chulé? Que ele é um zé bundinha? Que não é probo? Não! Nada disso! Pensei, mas não escrevi. Aliás, nunca uso a palavra probo, que acho horrível. Registrei apenas aquilo que todo mundo sabe: esta foi a pior gestão de toda a história da UA. As avaliações do MEC reprovaram, com coeficientes baixos, a maioria dos cursos pelas péssimas condições das bibliotecas. Walmirzinho não comprou um só livro, mas quando os alunos instalaram uma xerox para preencher o buraco das bibliotecas desatualizadas, ele chamou a polícia. Esse é o ponto substantivo a ser discutido, não os nossos adjetivos.

Essa gestão é tão incompetente, que não consegue sequer organizar as matrículas dos alunos. O início deste ano letivo foi um horror, porque as aulas iniciaram e ninguém sabia se estava ou não matriculado. O novo sistema implantado - um tal de Sisca ou Cisca - obrigou os estudantes a ciscarem, ciscarem, ciscarem, sem conseguirem localizar-se dentro da universidade. Uma vergonha!

FAROL SEM PILHAS

Os argumentos de Maria Mirjona foram utilizados há quase vinte anos, quando o reitor da UA, Octávio (com "c") Amilton (sem o "h") Botelho Mourão, tentava ser nomeado para um segundo mandato. A Universidade, para ele, era uma mina, porque aplicava no over night toda a grana da folha de pagamento e de encargos sociais da UA, embolsando os ganhos em benefício próprio. O comprovante dessa aplicação chegou ao conhecimento da Associação de Docentes. Exigimos uma Comissão de Inquérito para investigar. Mourão foi aos jornais ameaçando demitir esse escriba e os professores Marcus Barros e Moacir Lima. Fomos acusados de atacar a honra de um homem probo pelo grupo que hoje apoia Walmirzinho.

Depois, a Comissão de Inquérito descobriu que entre probo e robo a diferença era de apenas um "p" de "punição". E obrigou Mourão a devolver a grana. Naquela época, a secretaria executiva do gabinete do reitor Octávio Mourão era Ignez Walders Ferreira Izquierdo, professora auxiliar, uma pessoa honesta que não pode ser responsabilizada pelas pilantragens de seu chefe. Ela entrou na então UA em abril de 1978 como professora de ensino médio, ficou à disposição do Comando Militar da Amazônia em 1980, aposentando-se alguns anos depois como professora auxiliar. Casada com Riograndino Deck Izquierdo, membro da chamada "Comunidade de Informação", dona Ignez chegou a dar alguma aula? Não se sabe. O que sabemos é que se aposentou logo depois. Hoje, aposentada, soltou os cachorros em defesa do Walmirzinho. Aliás, todo o grupo do "reitor do over" apoia Walmirzinho. 

Orientada pelo reitor e candidato Walmir Albuquerque, Dona Ignez desenvolve o mesmo argumento da mulher do Slobodan Milosevic, Maria Mirjona Markovic. Em sua carta, ela nos chama de epígono partidário (sei lá que diabo é isso!), de 'comunicador gracioso' (muito obrigado pela deferência), acusando-nos de achincalhar com a Universidade do Amazonas, "desde seus primórdios, um farol, um modelo para outras instituições". Modelo de quê, não foi dito, nem lhe foi perguntado. Farol, pode até ser, mas nos últimos quatro anos, parece que a pilha gastou. E na época do Mourão, esse farol iluminava outras bocas.

P.S 1 - Francis, fiel leitor, obrigado pelas informações. Eu ia escrever um panfleto incendiário intitulado "Fora Walmir", mas fiquei com medo das críticas do Júlio e da dona Ignez.

P.S 2 - Em nome da verdade, devo registrar o fato: na madrugada do sábado, quando ia enviar a crônica para o jornal, abri o e-mail e encontrei uma mensagem da leitora Maria das Graças Luz ([email protected]) tomando as dores do Walmirzinho - a única - e me chamando de "debochado, maledicente e negativista psicótico". Tá legal, Graça! Obrigado pelo diagnóstico. Talvez você tenha razão, até mesmo porque nunca pretendi ser um "positivista normal". Mas você teria sido mais eficaz se tivesse argumentado e apresentado dados mostrando os avanços da Universidade nessa gestão. É isso que interessa. Caso contrário, argumentamos como a Maria Mirjona.

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