CRÔNICAS

Mick Jagger em Manaus: o encontro com Berinho

Em: 28 de Março de 2004 Visualizações: 7583
Mick Jagger em Manaus: o encontro com Berinho
O famoso roqueiro Mick Jagger, pai do filho da Luciana Jimenez, chegou em Manaus, meio incógnito, no último dia 25 de fevereiro, quarta-feira de cinzas, para gravar um documentário para a BBC de Londres sobre música e moda. Como manifestou curiosidade em conhecer a produção musical do Amazonas, o seu empresário entrou em contato com duas instituições governamentais, em busca de informações: primeiro, com a empresa estatal Amazonastur, antiga Emantur, onde falou com Oreni Braga; depois, com a Secretaria de Cultura, cujo titular é o Robério Braga. 
Os diálogos entre os dois Braga e o empresário foram em inglês, mas temos legendas em português, graças ao melhor aluno do Dom Bosco, que serviu de tradutor e aproveitou para fazer espionagem. Esse aluno, conhecido por seus colegas como ´Wet Bread´, viu e ouviu tudo, anotou, fez um relatório circunstanciado do que aconteceu. O que os Braga nem desconfiaram é que ´Wet Bread´ é nada mais nada menos do que o ´Pão Molhado´, personagem dessa coluna. Apresentamos, em seguida, o resumo do seu relatório.
A Braga do Turismo
O bocudo Mick Jagger queria, na realidade, estabelecer contatos com roqueiros amazonenses. Por isso, o empresário dele procurou o órgão responsável pelo turismo no Amazonas, perguntando à dona Oreni Braga, presidente da Amazonastur:
- Nessa cidade tem roque?
A resposta foi uma mijada no gringo: 
- Escute, meu senhor! ("Listen, my mister!" traduziu literalmente o Pão Molhado). Nós não operamos com obras do Satanás. Essa modalidade de música está ligada ao sexo e às drogas. Em contrapartida, oferecemos ao nosso irmão Jagger e aos Rolling Stones um divertimento turístico sadio: um CD de música gospel, gravado pela Amazonastur, tocado em todas as tendas da Assembleia de Deus e nos programas televisivos de nossa Igreja. Aleluia! Aleluia! Peixe no prato, farinha na cuia! 
O "irmão Jagger", é claro, ficou intrigado, sem saber em nome de quem dona Oreni Braga falava: se da Assembleia de Deus ou da Amazonastur. Ele foi informado que, no Brasil, a Igreja está separada do Estado desde a proclamação da República, em 1889, quando foi criado um estado laico. No entanto, parece que essa notícia ainda não chegou no Amazonas, pois aqui a Assembleia de Deus tomou de assalto a empresa estadual de turismo, depois que o pastor-deputado Silas Câmara, eleito pelo PFL (vixe! vixe!) indicou, para presidi-la, uma dócil e obediente ovelha do seu rebanho: justamente dona Oreni.
Segundo minucioso levantamento feito pelo repórter Tambaqui, uma das primeiras medidas da dona Oreni Braga foi botar no olho da rua os funcionários especializados, alguns deles treinados fora do Amazonas pela Embratur, com experiência de mais de quinze anos no setor. No lugar deles, contratou, sem concurso, outras ovelhas do pastor Silas, com fé de mais e experiência de menos. Com tal equipe, a maior realização "turística" da empresa até hoje foi patrocinar um Festival de Música Gospel no sambódromo. 
O Braga do Extrativismo
Não é politicamente correto dar a César o que é de Deus, nem a Deus o que é de César. Quando Igreja e Estado se misturam, causam estragos tanto na fé das pessoas como na coisa pública. Se o rebanho do Silas continuar pastando no capim do turismo, a empresa estatal vai anunciar, em breve, o ´Pacote Turisilas´, com excursões ao céu para o turista da Assembleia de Deus que tem fé de mais, e turnês guiadas - é o "inferno by night" - para o roqueiro que tem fé de menos.
Decepcionado com a Braga do Turismo, o gringo procurou, então, a Secretaria de Cultura. Telefonou:
- Cadê os roqueiros locais? O Mick Jagger quer falar com eles.
Do outro lado da linha, ouviu nitidamente a voz timbrada do "intelectual" orgânico do extrativismo, o secretário Robério Braga:
- Você está falando com o próprio. É comigo mesmo.
Seguiu-se a tradução, na voz hesitante do Pão Molhado. O tradutor vacilou, porque não sabe mentir e pensou com os seus botões: 
- Éraste! Desde quando o Berinho é roqueiro? Por que ele não indicou o Mencius Mello, vocalista da banda Zona Tribal e coordenador do Festival Fronteira Norte, que teve tanto sucesso?
Berinho não deu o contato com nenhum roqueiro amazonense, porque queria, ele sozinho, monopolizar o Mick Jagger. Se a Braga do Turismo puxa tudo para a Assembleia do Silas, o Braga do Extrativismo suga e extrai tudo em benefício próprio, sem dar vez para mais ninguém. Por isso, ele procurou pessoalmente estabelecer contato com Mick Jagger, que passou cinco dias no Amazonas, navegando no iate super-luxuoso alugado pela BBC - o "Santana" - o que só foi noticiado depois por Mônica Bérgamo, da Folha de São Paulo, e Márcia Peltier, do Jornal do Brasil.
Um garoto como eu
Todo mundo sabe que Berinho era um garoto que, como eu, amava os Beatles e os Rollings Stones e que vivia no mundo, sempre a cantar as coisas belas da América. Tentou impressionar Mick Jagger, indo ao seu encontro, enquanto cantarolava baixinho Help, Ticket to Ride, Lady Jane e Yesterday, e dava vivas à liberdade. Não deu certo. O encontrou dos dois durou apenas 12 segundos - um fugaz, mas glorioso momento de fama, que foi testemunhado unicamente pelo Pão Molhado.
Aconteceu o seguinte. Quando Berinho foi ao iate 'Santana', Mick Jagger, de bermuda e sem camisa, acabava de comer uma sobremesa regional e falava, lambendo os beiços: "I love cupuaçu". Por haver sido aluno de inglês da Miss Bell, no IEA, Berinho se considera biglota, superior, portanto, ao monoglota Ronaldo Tiradentes. Ele acha que para arranhar um inglês macarrônico, basta colocar "ok" no final de cada frase. Olhou o roqueiro e disse: "O cupuaçu é nosso, ok?" No que o Pão Molhado traduziu, enriquecendo o pensamento extrativista-braguiano:
- Mister, the cupuaçu is ours, ok? Lucianta Jimenez is yours, but the cupuaçu is ours, ok?"
Stop com Rolling Stones! Mick Jagger deu meia volta e entrou para o seu camarote. Berinho não teve tempo nem de falar do seu maior projeto cultural, que é transformar o dia 31 de outubro, dia das bruxas, no Dia do Saci. Ficou sem explicação, também, a falta de apoio da sua Secretaria ao Seminário de Cultura da Amazônia, que acabou se realizando em Belém, sob a presidência do poeta Thiago de Mello, como reunião preparatória ao Fórum Cultural Mundial, programado para junho, em São Paulo. O empresário do roqueiro despediu o secretário de cultura dizendo:
- Mister Rouberio, the State of Amazonas is fucked because there are many Breiga in the power, ok?
Mas essa frase o Pão Molhado não traduziu. A coluna Taquiprati tentou confirmar o fato, mas não conseguiu contato com Berinho, nem no seu gabinete na SEC, nem no telefone celular 9981-xx43. 
O POLEIRO DO CARIJÓ
O professor aposentado da UFAM e guru dessa coluna, Heyrton Bessa, residente em Niterói, enviou um e-mail contando o que aconteceu com sua sogra, a mãe da Rose. Transcrevo na íntegra:
"A Granja, digo, a Prefeitura de Manaus pirou de vez. A gana do Carijó pelo poleiro mais alto está confundindo até as poedeiras mais humildes. Olha só este caso: num ataque de berzoinite aguda, a PMM cismou de recadastrar todos os seus aposentados e pensionistas. A desculpa é saber se tem algum morto bastante vivo para continuar recebendo salários que, a rigor só dariam mesmo pra sustentar um morto". 
"Como Dona Edina, com proventos de menos de dois salários mínimos, mora aqui em Niterói, pediu para alguém recadastrá-la lá em Manaus. Exigiram os seguintes documentos: fotocópia autenticada da identidade, procuração para alguém fazer o recadastramento e atestado de vida e residência. Dona Edina tirou de letra as duas primeiras exigências. O problema era a terceira. Quem fornecia? No cartório, ninguém sabia o que era. Nem na polícia. Foi quando eu me lembrei que a exigência de tal documento, antes fornecido pela Polícia, foi abolida pelo Ministro Hélio Beltrão, ainda no governo Figueiredo". 
"Mas como ela tinha que provar que estava viva, apesar dos seu 86 anos, julguei que a própria procuração era suficiente, já que no seu início dizia: "No dia tal de tal, Dona Edina, residente em Niterói, compareceu a este Cartório...".
Na minha lógica, cartório tem fé pública e não é tenda espírita, logo se alguém "compareceu" é porque está vivo. Mas a amanuense manauense bateu pé que precisava o tal "atestado de vida". Por fim concordou que poderia aceitar, como documento válido, um "atestado" cuja minuta redigiu na hora: "Atestado: Eu, Edina de tal, atesto que vivo e resido na rua tal, etc, etc... " Com firma reconhecida, claro. Se ela assinar um montão deles, alguém pode receber seus proventos por boa parte da eternidade".
TRAÍRA COCORICÓ
"Na verdade, o meu desejo não era ser candidato, mas a população exigiu e os vereadores impuseram". Essa foi a declaração de Luiz Alberto Carijó, sexta-feira, tentando justificar seu papel de traíra. Por que não falar a verdade para a população? Por que não dizer: "eu estou louco para ser prefeito, mesmo por alguns meses". Além de já começar enganando, Carijó é um tanto quanto exagerado: não vi a população de Manaus gritando nas ruas: "Ca-ri-jó, Ca-ri-jó". 
CASAMENTO
Peço aos leitores que enviarem correspondência para a coluna, que tenham paciência se a resposta demorar. É que Amaro Júnior, webmaster do site www. taquiprati.com.br, casou-se ontem com Janaína, na igreja do Dom Bosco, numa bela cerimônia, e tão cedo não vai poder administrar o site, por razões altamente justificáveis. Para ele e Janaína, os nossos votos de felicidade.

PS. - Mais de 400 dias no poder e nada de Lula homologar a Terra Indigena Raposa Serra do Sol. .

 

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